sábado, 12 de janeiro de 2013

Bibliografia sobre sexualidade

Uma indicação de bibliografia que pode ajudar:
Título: Pele de Asno Não é Só História temática: abuso sexual em uma abordagem estatistica e descrição de casos Autor: Maria Amélia Azevedo / Viviane Nogueira de Azevedo Guerra Editora: Roca

 Título: Sexualidade na Escola: Alternativas Teóricas e Práticas Autor: Julio Groppa Aquino Editora: Summus Editorial

 Título: Sexo e Poder Autor: Guido Mantega Editora: Brasiliense S/A

 Título: O Relacionamento Amoroso: Segredos do Amor e da Intimidade Sexual Autor: Masters & Johnson Editora: Nova Fronteira

 Título: Por que os Homens Não Se Abrem: Como superar o medo de intimidade dos homens Autor: Steven Naifeh / Gregory White Smith Editora: Record

 Título: Relatório Hite Sobre Sexualidade Masculina Autor: Shere Hite Editora: Difel

 Título: Criação em Separado: Como a Biologia nos Faz Homo ou Hetero Autor: Chandler Burr Editora: Record.  

 Título: Enciclopédia Básica de Educação Sexual Autor: Dra. Helen Singer Kaplan Editora: Record.

 Título: O Relatório Hite: Um profundo estudo sobre a sexualidade feminina Autor: Shere Hite Editora: Difel 

Título: Corpo, Gênero e Sexualidade Autor: Guacira Lopes Louro / Jane Felipe Neckel / Silvana Vilodre Goellner Editora: Vozes Título:

O Corpo Educado : Pedagogias da Sexualidade Autor: Guacira Lopes Louro Editora: Autêntica Título: Gênero, Sexualidade e Educação: Uma perspectiva pós-estruturalista Autor: Guacira Lopes Louro Editora: Vozes Título:

Titulo: Os papeis sexuais Autor: Patrícia tucker Editora: brasiliense

Titulo: Relatório Kinsey (1948 ) masculino.

TTitulo:     Relatório Kinsey (1952) feminino

 Título: Agora que Você já Sabe o que todo pai e toda mãe deveriam saber sobre a homossexualidade Autor: Betty Fairchild e Nancy Hayward Editora: Record Tema de discussão: Um guia fundamental para dezenas de milhões de pais em todo o pais que tiveram de aceitar a homossexualidade de seu filho ou filha. Premiado Best seller americano. Agora que você já sabe tornou-se um texto clássico de informação e apoio desde sua primeira publicação no EUA em 1979. atualizado pelas próprias autoras ( mães de homossexuais) e acrescido de um capitulo sobre a AIDS, o livro chega ao Brasil em tradução de Rick Santos, pesquisador brasileiro radicado nos EUA.

 Título: Papai Mamãe sou Gay, um guia para compreender a orientação sexual dos filhos. Autor: Rinna Riesenfeld Editora: summus Tema de discussão: O que fazer quando seu filho ou filha diz que é homossexual? Escrito por sexóloga e terapeuta, com longa experiência em lidar com pais aflitos, este livro responde as inúmeras questões familiares de homossexuais. De maneira simples, aborda as dificuldades de lidar com a culpa, com o preconceito próprio e dos outros, como conversar com os filhos. Repleto de exemplos e diálogos reais, o quia é essencial para a compreensão da sexualidade e da importância dos poderosos laços familiares.

 SILVA, R. Orientação Sexual: possibilidade de mudança na escola. Campinas, SP: Mercado das Letras. 2002

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Uso da neurociência é o próximo desafio dos psiquiatras, diz médico brasileiro

FOLHA DE SÃO PAULO, EQUILIBRIO Uso da neurociência é o próximo desafio dos psiquiatras, diz médico brasileiro RAFAEL GARCIA EM WASHINGTON Não é exagero dizer que o gaúcho Luis Augusto Rohde, 47, é o psiquiatra mais influente do Brasil. Se ainda não o é, pode passar a ser a partir de maio de 2013, quando sai a nova edição do DSM, o Manual de Diagnósticos e Estatísticas, publicação considerada a bíblia dessa especialidade médica. Rohde foi o único brasileiro convidado para a força-tarefa da APA (Associação Psiquiátrica Americana) que revisou os critérios de definição dos transtornos mentais. A transição da quarta para a quinta edição do manual, com lançamento previsto para maio, não foi nada fácil. Mudanças do DSM-4 para o DSM-5 atraíram críticas de psicólogos e familiares de pacientes e foram alvo do lobby da indústria farmacêutica. Sob pressão, sem tempo e com orçamento limitado, psiquiatras recuaram de algumas propostas de mudança. Rohde, professor titular de psiquiatria da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), atuou num dos setores mais controversos da força-tarefa: o que cuidou do "transtorno do deficit de atenção por hiperatividade", grupo acusado de inflar artificialmente a epidemia desse problema mental em crianças. O psiquiatra, porém, argumenta que o novo manual está mais coerente e confiável. Em entrevista à Folha, Rohde também explicou por que o DSM-5 ainda não traz a "mudança de paradigma" que muitos cientistas desejavam: a de tornar a psiquiatria uma especialidade médica mais baseada em biologia. Jefferson Bernardes/Folhapress O psiquiatra Luis Augusto Rohde, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre * Folha - Como um manual feito pela Associação de Psiquiatria Americana vai influenciar o atendimento à saúde mental no Brasil? Luis Augusto Rohde - O sistema classificatório oficial no Brasil é a CID (Classificação Internacional das Doenças), da Organização Mundial da Saúde, que está na sua décima versão. Está atualmente em processo de revisão, com a próxima versão prevista para 2015. Na prática clínica de saúde mental, então, o DSM-5 não terá impacto direto sobre o psiquiatra e o médico de família que atende casos psiquiátricos ou neurológicos. Entretanto, em todos os serviços universitários e naqueles que trabalham com pesquisa em saúde mental no Brasil, o DSM é mais utilizado que a CID. É nesses setores que o impacto vai se dar inicialmente. Como esses serviços são formadores de profissionais da área de saúde, os conceitos vão sendo incorporados à prática deles, embora eles tenham também que respeitar os critérios da CID. Existe um esforço para que a CID passe a seguir os critérios do DSM? Sim. Existe uma decisão preliminar por parte da CID de que eles não vão mais desenvolver um manual com diretrizes clínicas ou critérios de diagnóstico para cada doença. Eles vão, na verdade, apresentar protótipos para cada doença. São descrições para que o clínico possa ver quanto o caso que ele está atendendo se assemelha àquela diretriz. Os critérios objetivos de diagnóstico ficam, então, restritos ao DSM. Existe inclusive um comitê de "harmonização" dentro da CID para tentar emparelhar o máximo possível os critérios dos dois sistemas. O DSM-5 desistiu de criar algumas novas categorias, como o "transtorno da regulação do humor e do comportamento" [que busca sintomas de depressão bipolar na infância] e a "síndrome do risco de psicose" [que busca sintomas de esquizofrenia na infância]. Os critérios para diagnosticar esses males falharam nos testes com pacientes? Primeiro é preciso notar que houve uma mudança no processo de revisão. No DSM-4, os testes de campo tinham buscado a validade do diagnóstico, mas no DSM-5, por questões logísticas e financeiras, os testes foram restritos a dois outros aspectos. Um deles era avaliar a confiabilidade dos critérios para teste-e-reteste. Isso é feito para confirmar se um conjunto de critérios resulta no mesmo diagnóstico ao ser aplicado em um paciente em dois momentos diferentes. O outro aspecto era avaliar a utilidade clínica do diagnóstico. Precisávamos saber se os critérios de diagnósticos propostos pelo comitê seriam palatáveis e clinicamente adequados nas mãos de um psiquiatra clínico com treinamento usual. No final dos testes, alguns diagnósticos apresentaram confiabilidade muito baixa. Além dos dois que mencionaste, também não se qualificaram o "transtorno misto de ansiedade e depressão" e a "autoagressão não suicida". Agora essas categorias provavelmente irão para a seção 3 do manual, designada àquelas que precisam de mais dados para que possam ser ser consideradas diagnósticos psiquiátricos. O diagnóstico do "transtorno da regulação do humor e do comportamento" teve uma confiabilidade modesta --um grau acima da ruim--, mas será mantido, em função da qualidade de pesquisa que já existe sugerindo a validade do diagnóstico. Isso leva em conta que existe um grupo de crianças nos EUA e em outros países que estão recebendo diagnóstico do "transtorno do humor bipolar", mesmo sem ter uma característica essencial, a episodicidade --a alternância de fases com sintomas maníacos e depressivos. E existe hoje um grupo de crianças com outros sintomas, mas sem a episodicidade, que acabam sendo diagnosticadas como tendo transtorno bipolar "sem outra especificação" [diagnóstico feito por exclusão]. A partir de agora, essas crianças recebem um espaço dentro do sistema classificatório porque elas claramente têm um quadro psiquiátrico grave que requer atenção. Os critérios para diagnosticar crianças com TDAH (transtorno do déficit de atenção por hiperatividade) foram muito criticados. O receio é que eles ampliem o que seria uma falsa epidemia e que crianças saudáveis passem a ser medicadas com o estimulante ritalina. O que muda no DSM-5? Nessa área eu tive, de fato, uma participação direta no processo. Em primeiro lugar, posso dizer que sempre que se pensou em qualquer reformulação dos critérios de diagnóstico para TDAH, houve uma preocupação com a explosão da prevalência, que foi chamada de "epidemia". Algo que precisa ficar claro é que TDAH é um conceito dimensional na população. Não existe um divisão entre o grupo dos "atentos" e o grupo dos "desatentos". O transtorno é um conceito gradual, como o de altura ou pressão arterial. O que fazemos com a TDAH é colocar um ponto de corte a partir do nível de intensidade em que os sintomas causam prejuízo funcional na vida do indivíduo. Houve duas principais modificações no DSM-5 que podem impactar na prevalência do transtorno. A primeira é com relação ao início dos sintomas. O DSM-4 exigia que prejuízos funcionais causados pelos sintomas do TDAH estivessem presentes na vida indivíduo antes dos sete anos de idade para o diagnóstico ser dado. O que temos visto, porém, é que existe um grupo significativo de crianças --principalmente aquelas com predomínio da desatenção sobre hiperatividade e impulsividade-- nas quais os sintomas só ficam evidentes quando entram na escola, porque é na sala de aula que existe uma demanda atencional mais clara. O que acontece é que mesmo com essas crianças tendo um quadro de TDAH com predomínio de desatenção, mesmo tendo um perfil de comorbidade similar, mesmo tendo prejuízo na vida tão grande quanto aquelas que manifestavam sintomas antes de sete anos, mesmo tendo resposta similar ao tratamento, mesmo tendo histórias de família similares, elas acabavam ficando de fora do diagnóstico do TDAH. Além disso, quando se faz o diagnóstico em adultos, é muito difícil que um adulto de 40 anos se lembre exatamente se tinha ou não sintomas antes dos sete anos. Em estudos como o "National Comorbidity Survey Replication", Ronald Kessler avaliou o diagnóstico do TDAH em adultos e demonstrou que em 96% das vezes o diagnóstico estava presente antes dos 12 anos. O que o comitê fez foi deslocar a idade mínima de início dos sintomas de 7 para 12 anos. Outro trabalho importante foi publicado no periódico da AACAP (Associação Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente) por Guilherme Polanczyk, que foi meu aluno de doutorado e hoje é professor da USP. Ele fez uma grande avaliação populacional na Inglaterra e mostrou que o deslocamento do critério de idade de início dos sintomas de 7 para 12 anos não implicava num aumento substancial da prevalência. A afirmação de que vai haver uma explosão no número de diagnósticos não é correta. É possível que a prevalência aumente um pouco, mas isso será produto da detecção correta de um grupo de crianças que, até então, estava excluído da possibilidade do diagnóstico mesmo tendo um quadro claro de TDAH com prejuízo funcional. A AACAP inclusive criticou a extensão do limite para 12 anos, porque eles queriam que expandíssemos para 18 anos. Nós tomamos uma medida conservadora, pensando na questão da explosão dos diagnósticos, e mantivemos o limite do critério em 12 anos, que era aquele mais bem sustentado por evidências. A segunda alteração está relacionada à possiblidade prevista pelo DSM-4 de excluir o diagnóstico do TDAH quando a criança é diagnosticada também com autismo ou outros tipos de TGD (transtornos globais do desenvolvimento). Vários trabalhos populacionais, porém, mostraram que há crianças autistas que apresentam, sim, sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade num grau causando prejuízo suficiente para merecer um diagnóstico de TDAH conjunto. Essas crianças respondem bem às medicações e intervenções indicadas para TDAH, mas não podiam recebê-las porque o DSM-4 impedia que elas se qualificassem para o TDAH e autismo ao mesmo tempo. Isso foi corrigido agora. Pode ser que a prevalência aumente um pouco, mas isso ocorrerá em razão da inclusão de um grupo que claramente necessita do diagnóstico para receber o atendimento adequado em países em desenvolvimento onde a indicação do tratamento está vinculada ao diagnóstico. Houve muita mudança nos critérios para diagnosticar o autismo? Pais temem que seus filhos não sejam mais considerados portadores de um transtorno e percam o direito a assistência médica. Primeiramente, é preciso entender que o processo de mudança não foi feito rapidamente. Cada grupo de trabalho teve reuniões por teleconferência, quase toda semana, durante quase três anos, além de vários encontros pessoais. Uma revisão da literatura sobre esses transtornos foi feita dentro de cada grupo de trabalho. As decisões não foram tomadas sem embasamento científico. No autismo, a ideia foi a de que o transtorno pudesse ser compreendido mais sob uma perspectiva dimensional, assim como o TDAH. Em vez de usar categorias claramente distintas, usamos um "espectro" autista e com isso abandonamos nomenclaturas que tratavam o problema como diferentes transtornos. A divisão era entre síndrome de Asperger, autismo, transtorno desintegrativo... Agora a nomenclatura vê "transtornos do espectro autista". No periódico da AACAP, Fred Volkmar mostrou que algumas dessas crianças, principalmente aquelas com diagnóstico de TGD sem outra especificação, poderiam ficar fora do diagnóstico. O impacto desse trabalho gerou muito debate, alimentado pela preocupação de pais de crianças com Asperger que temiam que seus filhos não se qualificariam mais para o diagnóstico. Mas isso não é verdade. Um artigo do grupo de trabalho de autismo do DSM-5 mostrou que, na verdade, essa constatação não tinha amparo. De qualquer forma, o resultado de toda a discussão foi manter a ideia do transtorno do espectro autista, mas levando em conta que aquelas crianças que já tem um diagnóstico anterior de TGD não especificado ou síndrome de Asperger pudessem ser incorporadas. A ideia não é excluir crianças do diagnóstico, mas ter uma compreensão mais real, mais moderna, dos transtornos autistas e do seu espectro. O receio de que crianças com Asperger deixem de se qualificar como portadoras de um transtorno, então, não se justifica? A ideia geral é que isso não aconteça, mas vamos precisar de mais trabalhos para ver efetivamente o desempenho dessa categoria de transtornos do espectro autista, para ver se ela está sendo tão inclusiva quanto necessário. A razão dessa questão mais restritiva é também o diagnóstico muito frouxo de TGD que é feito em muitos locais. Há 15 anos, nós tínhamos uma prevalência de 4 a 8 crianças autistas por 10 mil nascimentos. Hoje se fala em 1 criança com TGD a cada 200 ou 300 nascimentos. O que o grupo de trabalho procurou fazer foi delimitar de maneira muito clara o que é o espectro autista e riscar essas fronteiras de forma adequada para evitar diagnósticos frouxos de transtorno autista, Asperger e outros TGDs, que são diagnósticos graves para se aplicar a uma criança. O DSM-4 levou muito tempo para ser revisado. A APA vai atualizar o DSM-5 com mais frequência? O presidente e o vice-presidente da força-tarefa --David Kupfer e Darrel Regier-- dizem que o DSM-5 vai ser um documento "vivo", porque não faz sentido esperar 29 anos para os sistemas classificatórios passarem por revisões. Mas, para explicar a razão dessa demora, é preciso entender uma outra coisa. Eu e muitos outros colegas tínhamos uma crítica com relação ao processo. Quando entrei no esforço de revisão do DSM, eu tinha o desejo e a fantasia de que seria possível ter uma modificação de paradigma na forma de se fazer diagnóstico psiquiátrico. Nós queríamos a inclusão de marcadores neurobiológicos [sinais físicos do funcionamento do cérebro e do sistema nervoso] na prática clínica. Queríamos aproximar a psiquiatria de um estágio de desenvolvimento onde está a oncologia, por exemplo. Então, o desejo entre 2000 e 2005, quando entramos no processo, era que, em algumas situações, o diagnóstico pudesse se basear em marcadores neurobiológicos. O que aconteceu foi que, ao revisar o que existia de evidência científica dentro da área de psiquiatria, constatamos claramente que ainda não estamos prontos para uma mudança de paradigma. Isso gerou na comunidade científica uma certa sensação de frustração. Mas foi possível, porém, fazer algo extremamente importante: analisar o que poderia ser melhorado nos critérios diagnósticos e revisá-los à luz da medicina baseada em evidência, para torná-los mais válidos. Isso levou em conta tudo o que foi feito de pesquisa durante esses 29 anos. O problema é que não faz sentido esperar tudo isso para modificar um sistema classificatório. Então, é importante agora que o DSM tenha essa flexibilidade e essa agilidade maiores. Quando houver um grupo de dados consistente, baseado em evidências, mostrando que um critério não está adequado, é importante que essa modificação não tenha de esperar pelo processo de revisão de todo o manual para ser implementada. Uma crítica comum de psicólogos é que a falha em usar a biologia para diagnósticos sinaliza um momento de crise na psiquiatria? Na verdade, evoluímos bastante na compreensão dos aspectos neurobiológicos genéticos e fenotípicos [características observáveis] dos transtornos mentais. Quando analiso um grupo de crianças com TDAH e as comparo um grupo de crianças com desenvolvimento típico, depois as comparo com um grupo com transtorno do espectro autista, consigo ver aspectos neurobiológicos, de neuroimagem, genéticos e de resposta a tratamento que são diferentes entre os grupos. O que ainda não conseguimos fazer é a tradução dessas diferenças de grupo para um indivíduo específico, a ponto de os avanços em neurobiologia serem úteis no diagnóstico individual. Ainda não estamos no mesmo patamar de algumas áreas da medicina como a endocrinologia, a cardiologia ou a oncologia. Esse é o desafio da psiquiatria nos próximos anos. Isso não significa que estejamos em crise, mas significa que ainda não estamos no mesmo patamar de algumas áreas da medicina como a endocrinologia, a cardiologia ou a oncologia. Nesses campos, o conhecimento vindo das diferenças de grupo pôde ter suficiente validade preditiva positiva e validade preditiva negativa para auxiliar uma medicina mais personalizada e um diagnóstico mais individual. Nós estamos agora num momento em que esses dados ajudam a compreensão da neurobiologia do transtorno psiquiátrico, mas não nos ajudam no diagnóstico clínico. O diagnóstico psiquiátrico ainda tem de ser muito baseado no exame do estado mental, na história clínica do paciente e nos dados que conseguimos com familiares. Isso não significa que exista uma dicotomia entre psiquiatria e psicologia no manual. Enxergar uma dicotomia é ter uma visão limitada da área de saúde mental. Muitas vezes, um grupo da psicologia social, no Brasil e no exterior, tenta se valer disso para questionar a validade do diagnóstico psiquiátrico e desencadear toda essa discussão, afirmando que existe uma "medicalização da educação" e que os diagnósticos são "usados como rótulos". A meu ver, porém, esse grupo não representa a psicologia como um todo. Eles representam apenas uma determinada área da psicologia. Entidades de classe dos psicólogos reclamam que a revisão do DSM-5 foi muito restrita a psiquiatras. Eles não tem razão em reivindicar um papel maior? É difícil avaliar isso, porque eu teria de saber qual era o tamanho da participação esperada por essas entidades. Na maioria dos grupos de trabalho houve participação de psicólogos e de outros não psiquiatras. No grupo que trabalhou com TDAH, dois dos oito membros --Joel Nigg e Paul Frick-- eram psicólogos. Não é verdade, então, que não houve participação da psicologia. Houve até participação externa de psicólogos, porque os critérios de diagnóstico ficaram abertos para escrutínio público no site da APA por um longo tempo. Nós recebemos muitas críticas de psicólogos, e foram todas individualmente avaliadas para que fossem incorporadas às modificações, se fosse necessário. Houve uma participação de psicólogos como nunca tinha havido. Foi um processo muito mais aberto do que o do DSM-4. É válido discutir se a abertura foi suficiente e se a comunidade se sente confortável com ela, mas certamente foi um processo mais aberto do que qualquer outra revisão do DSM. Um estudo da Universidade Harvard indicou que há mais psiquiatras da força-tarefa do DSM-5 envolvidos com a indústria farmacêutica hoje do que na época da quarta edição. O conflito de interesses aumentou? A criação do DSM-5 é um processo que é embasado em ciência, mas é um processo que sofre forças de todos os lados. Enquanto um diagnóstico recebe crítica por ficar mais restritivo e deixar mais gente de fora, outro é criticado por ser mais inclusivo e acaba acusado de criar uma epidemia. As pressões são de todos os lados. Não tenho uma ideia clara de qual é o tamanho da pressão da indústria farmacêutica, mas posso dizer que a APA tomou medidas claras para tentar controlar ao máximo essa pressão da indústria. Ela determinou que a participação de pessoas no trabalho e no desenvolvimento do DSM-5 fosse dada com um limite claro de contato com a indústria. Os integrantes não poderiam receber mais de US$ 10 mil por ano da indústria nem ter mais de 5% da renda bruta vinda de qualquer relação com a indústria. Esse limiar é o mesmo adotado por várias outras associações médicas nos EUA. Acima disso, considera-se que a influência da indústria sobre o indivíduo --clínico ou pesquisador-- passa a ser significativa. A APA assumiu esse limite claro e avaliou cada membro, antes e durante o processo, para que esse limite no contato com a indústria fosse mantido. Isso tirou dos grupos de trabalho uma série de pessoas que tinham atuado no DSM-4 e até algumas pessoas que são consideradas experts em suas áreas. O artigo de Harvard tem um viés claro, porque entre 1990 e 1994, quando o DSM-4 estava sendo discutido, não era obrigatório para os membros revelar potenciais conflitos de interesse. Isso não era uma coisa discutida em detalhe pelos profissionais da área de saúde. Comparando o grau de interesses declarados feitos no DSM-5 com aqueles do DSM-4 em 1994, então, é óbvio que se enxerga um aumento, porque antes as pessoas simplesmente não eram obrigadas declarar. Existia uma certa insatisfação por parte dos clínicos com a forma com que o manual trata dos chamados "transtornos de personalidade" no manual. O que vai mudar agora? É provável que se pense numa redução do número de transtornos. Existiam uns dez transtornos de personalidade listados no DSM-4, e muitos não tinham uma confiabilidade adequada para teste-e-reteste. Por isso, era difícil que os clínicos concordassem. Uma das modificações que estão sendo propostas no DSM-5, também nessa área, é uma noção mais dimensional da questão de personalidade, para substituir os diagnósticos por categorias. Vão continuar existindo alguns diagnósticos de transtornos de personalidade, aqueles para os quais existe base de evidência um pouco mais forte. Dentre os quais estão o "transtorno de personalidade antissocial" e o "transtorno de personalidade borderline". A ideia é ampliar a noção de personalidade para trabalhar com constructos que sejam mais dimensionais e menos categóricos. A clássica figura do psicopata como portador de um problema mental continuará existindo, então? Isso foi discutido, e o transtorno de personalidade antissocial deve continuar existindo. Existe suficiente validade de diagnóstico para isso. Mas a questão mais discutida aqui era outra. O que debatemos é se seria possível levar o diagnóstico para a infância ou para adolescência. No DSM-4, o diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial exige que o indivíduo tenha mais de 18 anos. Então, foi discutido se essa trava poderia ser em uma idade mais reduzida, o que teria implicações judiciais, porque existe também uma grande discussão sobre a imputabilidade de pessoas diagnosticadas com o transtorno. [A nova versão acabou mantendo o limite de idade em 18 anos.] Os novos critérios do DSM vão ajudar a melhorar a tensa relação entre psiquiatras e psicólogos? FOLHA DE SÃO PAULO EQUILIBRIO As modificações nos critérios de diagnósticos transcendem essa discussão. Elas não vão nem melhorar nem piorar essa tensão. As mudanças propostas são baseadas em evidência. Na minha visão, não existe essa animosidade entre psiquiatras e psicólogos. A tensão que existe é entre psiquiatras e um grupo de psicólogos que tem dominado as entidades de classe. Eles representam um grupo da psicologia social que não admite a possibilidade de diagnóstico psiquiátrico, o que não é a realidade da psicologia como um todo. Tenho bastante convivência com a psicologia dentro de meios universitários, com o pessoal da neuropsicologia e com diversas áreas clínicas, e não sinto animosidade por parte desses outros grupos. O que existe é um grupo específico da psicologia social que domina as entidades de classe da psicologia e, ao mesmo tempo, tenta desqualificar os diagnósticos em saúde mental. Não vejo isso como uma dicotomia entre psicologia e psiquiatria. Um dos grandes críticos do DSM-5 nos EUA foi Allen Frances, psiquiatra que tinha coordenado o DSM-4. O que esses ataques partindo de alguém tão próximo representaram para a APA? O exaustivo processo de revisão da evidência científica para o DSM-5, as análises secundárias que foram feitas dentro de cada diagnóstico com base em dados disponíveis e os testes de campo avaliando a utilidade clínica e a confiabilidade foram processos que em nada se diferenciam daqueles do DSM-4. Se Allen Frances se sentiu magoado por não ter sido convidado para participar do processo do DSM-5 é algo que tem de ser perguntado a ele. O que é mais importante o público leigo entender sobre as mudanças na psiquiatria? A mensagem é que o DSM-5 que vai aparecer em maio de 2013 é o melhor esforço possível, dado o grau de evidência científica disponível no momento, para que haja um avanço na forma de diagnosticar e de acolher os portadores de problemas de saúde mental. ________________________________________

domingo, 6 de janeiro de 2013

Educar da trabalho

Luiz Fernando Paes Dizer um não pode ser difícil mas é eficaz para quem educa. Nos tempos da ditadura, o autoritarismo governamental impedia que as pessoas se expressassem suas vontades e necessidades. Com o fim do regime militar, os adultos, receosos de serem autoritários, passam a o usar o sim com "mais" frequência, preocupados em não frustarem seus filhos, mas se esquecendo que a frustração é importante para desenvolver a personalidade e aos reveses da vida. Pai e mãe devem acompanhar diariamente a educação do filho. É muito comum ouvir do pai ou mãe na escola que desistiu de educar "deixei de lado não sei mais o que fazer". Essa sensação de impotência e consequência do distanciamento entre os integrantes da família. Outro problema comum acontece nas famílias muito pobres, onde mesmo de forma precária, as crianças tem acesso a computadores e celulares, em pouco tempo dominam essas tecnologias com conexão com internet. Os pais, muitos semi analfabeto, não conseguem acompanhar, pela facilidade e rapidez que os mais jovens aprendem, dificultando a comunicação entre geração de pais e filhos, já que os pais dificilmente conseguirão acompanhar os filhos no mundo digital. As instituições de ensino, principalmente as universidades que se dedicam às pesquisas, tem a importante função de desenvolver meios que facilitem a linguagem entre os pais e as crianças. Os pais ainda precisam ser os principais educadores, é na família que a criança busca seu modelo e constrói sua visão de mundo, onde passa a maior parte do tempo, portanto é principalmente da família que devem vir regras e limites bem claras de convivência e limite, base para construir bem estar social e mental da criança. Mesmo uma escola de boa qualidade não dará conta da tarefa de educar para a cidadania e qualidade de vida.

sábado, 5 de janeiro de 2013

A depressão infantil

Luiz Fenando Paes Crianças, como todo ser humano esta sujeita a ter momentos de tristezas, mas logo se distraem e vão brincar, é comum.

 Devemos ficar mais atento quando a criança começa a apresentar vários sinais de sofrimento em um espaço de tempo grande. Infecções sem uma causa aparente, pode estar relacionado com diminuição do sistema de defesa do organismo,o sistema imunológico, que esta ligado à saúde mental da criança,se ela esta feliz tende a estar mais resistente.

 Desinteresse em sair de casa, mesmo para passear, sono excessivo. A falta de apetite em algumas crianças, que geralmente já são magras, pode se acentuar em caso de depressão. O inverso pode acontecer, uma criança acima do peso, repentinamente passa comer compulsivamente.

Tristeza por mais de um dia, irritabilidade além do usual, não se divertir com coisas que geralmente gostava de fazer, regressão no comportamento, sentir-se cansado sem ter realizado muitas atividades, dificuldade para dormir.

Também, de acordo com a Fiocruz, são sinais de depressão infantil: Sintomas: * Sentimentos de desesperança. * Dificuldade de concentração, memória ou raciocínio. * Angústia. * Pessimismo. * Agressividade. * Falta de apetite. * Tronco arqueado. * Falta de prazer em executar atividades. * Isolamento. * Apatia. * Insônia ou sono excessivo que não satisfaz * Desatenção em tudo que tenta fazer. * Queixas de dores. * Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade * Idéia de suicídio ou pensamento de tragédias ou morte. * Sensação freqüente de cansaço ou perda de energia * Sentimentos de culpa. * Dificuldade de se afastar da mãe. A escola é um bom indicativo da saúde emocional,

Um professor(a) mais atento pode ajudar. Alteração de comportamento, diminuição nas notas, distância dos colegas na sala ou no intervalo, na hora de formar grupos de trabalho escolar, nas manifestações artísticas, como um desenho.

 Manter o diálogo com os pequenos é a melhor maneira de saber como andam suas cabecinhas, afinal conversar nunca é demais e depois é preciso resistir aos excessos de atividades de lazer individualizados.

 Ter um horário mais reduzido para computador e TV, e se possível, não ter TV e computador no quarto, principalmente com porta fechada, é trabalhoso, mas vale a pena. Criança geralmente é agitada e alegre, portanto mais de um dia em que a criança esteja muito quieta, precisa de uma atenção maior dos pais.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sexualidade Revista Veja) Homossexualidade pode ser influenciada pela epigenética Ricardo Carvalho (Revista Veja) Pesquisa afirma que a orientação sexual pode estar ligada a marcadores epigenéticos que regulam a sensibilidade à testosterona e são transmitidos de pais para filhas e de mães para filhos Estudo tenta entender qual o componente biológico na definição da orientação sexual das pessoas (iStockphotoItem ) Do ponto de vista evolutivo, o fato de a homossexualidade ser algo bastante comum na sociedade humana, ocorrendo em cerca de 5% da população mundial, é intrigante. Como homossexuais produzem menos prole do que heterossexuais, uma possível variação genética relacionada à homossexualidade dificilmente seria mantida ao longo das gerações. "Isso é muito enigmático a partir de uma perspectiva evolucionária: como a homossexualidade pode existir em uma frequência tão alta a despeito do processo de seleção natural?", diz em entrevista ao site de VEJA Urban Friberg, do departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Uppsala, na Suécia. Friberg, ao lado de William Rice, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, e Sergey Gavrilets, da Universidade do Tennessee, ambas nos Estados Unidos, pode ter encontrado uma resposta: o fator biológico ligado à homossexualidade não estaria na genética propriamente dita, e sim em um conceito conhecido por epigenética. Os resultados foram publicados nesta terça-feira no periódico científico The Quarterly Review of Biology. A epigenética trata de modificações no DNA que sinalizam aos genes se eles devem se expressar ou não. Esses marcadores não chegam a alterar nossa genética, mas deixam uma marca permanente ao ditar o destino do gene: se um gene não se expressa, é como se ele não existisse. CONHEÇA A PESQUISA Título original: Homosexuality as a Consequence of Epigenetically Canalized Sexual Development. Onde foi divulgada: The Quarterly Review of Biology Quem fez: William Rice, Urban Friberg e Sergey Gavrilets Instituição: Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Universidade de Uppsala e Universidade do Tennessee. Resultado: O artigo estudou um possível componente hereditário para, a partir de um ponto de vista evolutivo, explicar a homossexualidade. Os três autores montaram um modelo segundo o qual uma marca epigenética (epimarca), que regula a sensibilidade à testosterona em fetos, pode ser transmitida de mãe para filho e de pai para filha e influenciar na orientação sexual. Essa nova teoria vai ao encontro de outra tese mais antiga, a de que a homossexualidade é definida, ao menos em parte, por um componente hereditário. Pelo menos quatro grandes estudos, publicados em 2000, 2010 e 2011, nos periódicos Behavior Genetics, Archives of Sexual Behavior e PLoS ONE, apontam para esse fator na origem da orientação sexual, a partir de estudos com gêmeos monozigóticos (também chamados de idênticos ou univitelinos, produtos da fertilização de um único óvulo) e dizigóticos (também chamados de fraternos ou bivitelinos, produtos da fertilização de dois óvulos diferentes). Epigenética — Imagine o material genético humano como um manual de instruções. Os genes formariam o conteúdo do livro, enquanto as epimarcas ditariam como esse texto deveria ser lido. "A epigenética altera e regula a forma como os genes se expressam", explica a geneticista Mayana Zatz, do departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo (USP). É por meio dos comandos epigenéticos, por exemplo, que o pâncreas fabrica apenas insulina, apesar de as células nesse órgão terem genes para a produção de muitos outros hormônios. Acreditava-se que os traços da epigenética não eram hereditários, sendo apagados e recriados a cada passagem de geração. Como pesquisas nas últimas décadas mostraram que uma fração de epimarcas é, sim, passada de pais para filhos, Friberg, Rice e Gavrilets julgaram ter encontrado a peça que faltava para montar o quebra-cabeça. Sensibilidade – Os três criaram um modelo segundo o qual uma dessas epimarcas transmitidas hereditariamente é o marcador responsável por regular a sensibilidade à testosterona de fetos no útero materno. Ao longo da gestação, tanto fetos masculinos quanto femininos são expostos a quantidades variadas do hormônio, sendo que o fator epigenético estudado no artigo torna o cérebro dos meninos mais sensíveis à testosterona quando os níveis estão abaixo do normal. Isso acontece para preservar características masculinas, podendo inclusive influir na orientação sexual. O mesmo ocorre, mas inversamente, com as meninas. Quando a testosterona está acima do normal, a epimarca funciona como uma barreira, diminuindo sua sensibilidade ao hormônio. A partir desse modelo, a homossexualidade poderia ser explicada pela transmissão de epimarcas sexualmente antagônicas. Ou seja: quando o pai transmite seus marcadores, que tiveram a função de torná-lo mais sensível à testosterona, para uma filha. De igual maneira, esse material hereditário pode ser passado de uma mãe para um filho, tornando-o menos sensível à testosterona. "Quando os efeitos desse mecanismos (que regulam a sensibilidade à testosterona) não são apagados entre as gerações, eles se expressam na prole do sexo oposto. Isso pode resultar em indivíduos que desenvolvem preferências sexuais pelo mesmo sexo", explica Friberg, da Universidade de Uppsala. "O que fizemos foi colocar pela primeira vez o conceito da transmissibilidade epigenética no contexto de desenvolvimento sexual." O pesquisador faz questão de ressaltar que ainda não se pode provar que a epimarca específica da sensibilidade à testosterona é hereditária. Para tanto, testes específicos precisarão ser realizados. "Uma grande solidez do nosso estudo é que o modelo epigenético para a homossexualidade faz predições que são testáveis com tecnologia já existente. Se o nosso modelo estiver errado, pode ser rapidamente descartado", escrevem os autores no artigo do The Quarterly Review of Biology. Outro pesquisador envolvido, Sergey Gavrilets, da Universidade do Tennessee, afirma que mesmo que a teoria da hereditariedade seja respaldada por futuros estudos, o debate está longe de acabar. "A hereditariedade explica apenas parte da variação na preferência sexual. As razões, que podem ser sociais, culturais e do ambiente, permanecerão como um tópico de intensa discussão." "Estudo positivo" – Carmita Abdo é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela destaca que a nova pesquisa é positiva, uma vez que contribui para a melhor compreensão dos fatores biológicos envolvidos na ocorrência da homossexualidade. "O trabalho é importante porque reforça uma ideia cada vez mais prevalente: a de que a genética — no caso a epigenética — tem influência sobre a orientação sexual." Essa compreensão científica tem sido importante, segundo Carmita, no combate a mitos que envolveram o tema e que alimentaram interpretações preconceituosas. "Até pouco tempo atrás, achava-se que a orientação sexual era proveniente de uma escolha, como se deliberadamente o indivíduo optasse por ser homossexual. Muito do preconceito contra os homossexuais advém daí", afirma, lembrando que até o início dos anos 90 a homossexualidade era tratada como um transtorno de preferência, e não como uma característica. "Observar um fenômeno pelas lentes da ciência muda a compreensão e ajuda a deixar de lado certas discriminações. Nesse caso em particular, você remove da equação a ideia de que o homossexual é responsável por uma opção que muitos veem como negativa, pejorativa." Ela ressalva, entretanto, que ainda existe muita incerteza no campo e que a orientação sexual precisa ser encarada como produto de vários fatores. "O estudo reforça a ideia segundo a qual existe uma predisposição que vai ser confirmada ou não a partir de uma serie de influências que vão ocorrer ao longo da vida, algumas delas de ordem cultural, educacional e social. Ele não consagra uma interpretação determinista, nem diz que tudo depende dos genes" "Nosso objetivo é entender como as preferências sexuais se desenvolvem e evoluem" Urban Friberg Professor do Departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Uppsala, na Suécia Qual o principal objetivo da pesquisa? Assume-se que indivíduos homossexuais produzem menos prole do que heterossexuais. Qualquer codificação genética para homossexuais deveria, portanto, ser rapidamente removida no processo de seleção natural. Apesar disso, a homossexualidade é relativamente comum entre humanos (cerca de 5%). Além do mais, os melhores estudos disponíveis mostram que há um componente hereditário na homossexualidade. Isso tudo é muito intrigante de uma perspectiva evolucionária: como a homossexualidade pode existir em frequências tão significativas apesar da seleção contra ela? O objetivo da nossa pesquisa foi simplesmente tentar resolver esse enigma, o que nos ajuda a entender como as preferências sexuais se desenvolvem e evoluem. Como a mudança de foco de genética para a epigenética pode ser explicada? Nossa principal contribuição é trazer uma explicação lógica para o porquê de a homossexualidade ser algo tão frequente – e para tanto nós mudamos o foco, como causa da homossexualidade, de genes para epimarcas. Nossa teoria sugere que a homossexualidade é resultado de um mecanismo que ajuda as pessoas a desenvolver a preferência por indivíduos do sexo oposto. Quando os efeitos desses mecanismos (epimarcas) não são apagados entre as gerações, eles se expressam na prole do sexo oposto. Isso pode resultar em indivíduos que desenvolvem preferências sexuais pelo mesmo sexo. Como a comunidade científica lida com genética e homossexualidade? Houve diversos estudos nos quais os pesquisadores tentaram encontrar genes associados com a homossexualidade. Tais estudos falharam e nenhum gene foi identificado. O resultado disso tudo é intrigante, uma vez que a homossexualidade tem um componente hereditário. Nossa teoria, porém, é capaz de explicar por que a homossexualidade é tão comum e tem um componente hereditário, sem nenhuma codificação genética para esse traço. Encontrar uma possível explicação biológica ajuda a combater o preconceito? Atualmente, algumas pessoas acreditam que a homossexualidade é uma escolha pessoal e que indivíduos homossexuais podem ser ensinados a escolher de forma diferente a sua orientação sexual. Eu acredito que encontrar as raízes da preferência sexual mina tais mitos e ajuda as pessoas a melhor entender e aceitar a homossexualidade.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Para muita gente, saber que alguém é negro já é o bastante

23/12/2012 - Leonardo Sakamoto Há amigos que nunca foram parados em uma blitz policial. Normalmente, são brancos, caucasianos, bem vestidos, jeito de bom moço ou moça, com todos os dentes ou próteses bem feitas, dirigindo veículos que estão nos comerciais bonitos de TV. Aqueles com montanhas nevadas e cervos. Um deles, por exemplo, me explicou que pilota uma moto há tempos sem habilitação. “A polícia não para de jeito nenhum.” Enquadra-se perfeitamente na categoria acima descrita. Recentemente, um rosado conhecido foi parado em uma batida. Ficou transtornado. “Como se atrevem? Acham que sou um qualquer?” Por outro lado, há aqueles que cansaram de cair na malha fina da polícia. Quase sempre, negros ou pardos. De tanto ser parado, um outro conhecido já encara como hábito. Perguntei se isso não o revoltava. Explicou, com um certo cansaço, que, desde moleque, era sempre a mesma coisa. Então, se acostumou. Já chegou a cair em duas batidas na mesma noite. Procuravam um meliante. A Folha de S.Paulo, deste domingo (23), traz um caderno discutindo a questão das cotas. Nele, debate as diferenças entre o perfil genético de estudantes entrevistados e o que eles autodeclaram. Explica que, às vezes, filhos de pais de pele cor parda nascem brancos ou negros. Ou, por vezes, uma pele negra esconde um perfil genético com grande participação de ancestralidade europeia. Mostrando que a história de cada família é mais complexa do que se imagina. Na minha opinião, a questão genética não deveria influenciar. O preconceito não se traduz quando alguém tem conhecimento da ancestralidade do outro, mas ao observar a cor ou diferenças étnicas. Porque mesmo que essas diferenças visuais digam pouco sobre a origem da pessoa, séculos de racismo deram um significado bem claro para determinada cor de pele. E isso não pode ser alterado sem enfrentamento. Na prática, muitos não esperam para perguntar o perfil genético do rapaz negro que vem no sentido contrário na rua escura. Simplesmente, atravessam para o outro lado ou correm. Balas perdidas com o DNA da polícia não são guiadas pelo perfil genético e pouco se importam que um rapaz de pele negra tenha 70% de ancestralidade europeia. Talvez, posteriormente, o legista ache interessante. E a herança desse preconceito não precisa ter sido sentida por gerações e mais gerações. Se uma criança nascer com a pele mais escura que sua família vai sofrer preconceito na sociedade mesmo que seus pais não tenham sofrido. Se for pobre, pior ainda. Tomando como referência a média salarial, os valores pagos para uma mesma função na sociedade coloca, em ordem decrescente: homem branco rico de um lado e mulher negra pobre do outro. Para Walter Benjamin, passado e presente são uma coisa só. No bafo da pessoa que está viva respiram também as pessoas do passado. Ao me relacionar com os outros, não faço isso só. Imprimo séculos de biografias, séculos de acomodação cultural, de preconceitos e medos, reforçadas pela imagem do que sou hoje. Não só a genealogia pesa sobre os ombros, mas também a história e as condições sociais do país. De certa forma, no “agora” está presente toda a história humana. A Justiça que se pretende fazer com políticas de cotas não é apenas a de saldar a dívida de uma escravidão mal abolida com os descendentes dos negros escravizados que não foram inseridos como deveriam no pós Lei Áurea. Mas sim a tentativa de mudar o pensamento e a ação de uma sociedade, ainda calcada na relação Casa Grande e Senzala, que trata as pessoas de forma desigual por sua cor de pele. Ou alguém duvida que, no fundo, Joaquim Barbosa não sofra preconceito por ser negro, mesmo ocupando a cadeira de presidente de nossa Suprema Corte? Quem duvida, leia as entrelinhas e os interditos nas palavras de políticos, de todas as agremiações, e de alguns colegas da mídia sobre ele. Afinal, para muita gente, saber que alguém é negro já é o bastante.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A morte de nossos jovens, vergonha nacional.

Luiz Fernando Paes Prováveis causas do aumento das mortes violentas entre crianças e jovens: - -Melhoria coletas de dados e das estatísticas -Mais investimentos em repressão do que em prevenção - naturalização” e aceitação social da violência, como a “culpabilização da vítima justificando a violência dirigida, principalmente, a setores subalternos ou particularmente vulneráveis que demandam proteção específica. -Dificuldade das escolas em manter diminuir a evasão escolar -Aumento do consumo de álcool e drogas, que tem feito da própria casa da criança e do jovem um lugar inseguro -Falta de divulgação dos dados e esclarecimento à população de que a grande desigualdade social deve ser combatida por todos, matar não resolve, apenas produz pessoas mais violentas. Assim como em alguns países acredita-se que uma “limpeza étnica” resolveria os conflitos internos da região, muitas pessoas de nossa sociedade, acreditam, de forma equivocada, que matar os jovens vai resolver o problema da violência. -Falta de implementação de políticas públicas e estratégia, que permitam a inserção do jovem na sociedade -Falta de divulgação pela imprensa de experiências que ajudem a promoção de experiências inovadoras, seja do Brasil ou no exterior Segundo pesquisa com dados do ministério da Saúde o assassinato de crianças e jovens tem aumentado significativamente nos últimos anos. Desde 1980, aumentou 376%. No mesmo período, entre 1980 e 2010, os homicídios como um todo cresceram 259%. Segundo dados são do "Mapa da Violência 2012 - Crianças e Adolescentes do Brasil". Um dado que chamou a atenção do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa, foi quanto os homicídios de jovens representava no total de mortes. Em 1980, eles eram pouco mais de 11% dos casos de assassinato. Já em 2010, 43%. Para Jacobo “epidêmica”. “A taxa de homicídios entre jovens está três vezes acima da média internacional. Ainda é muito elevada se levarmos em conta o contexto externo”. As epidemias e doenças infecciosas , principais causas de morte de jovens há cinco décadas, foram gradativamente substituídas por “causas externas”, tais como acidentes de trânsito e homicídios. Segundo a pesquisa de Jacobo, (http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001351/135104porb.pdf), 93% das vitimas são homens e negros. Isso mostra claramente que nosso país ainda esta longe de superar a terrível experiência de nosso passado escravagista e que ainda pessoas são estigmatizados de forma cruel, pela cor de sua pele. De acordo com Jcobo Waiselfisz, somente políticas públicas específicas podem reduzir os índices: “A maior parte dos jovens não tem acesso a benefícios sociais básicos, como educação, trabalho, saúde. Esse tipo de exclusão provoca contornos de violência. Prova disso é que os estados mais violentos não são os mais pobres, mas aqueles onde há maior concentração de renda e conflitos entre riqueza e pobreza”. Por um lado observamos a queda dos índices de mortalidade infantil, decorrente da melhoria dos serviços referentes ao atendimento pré-natal, o mesmo não acontece com a juventude das localidades mais carentes,em cidades riquíssimas como São Paulo, ou seja, os jovens estão sendo “eliminados” antes de chegar a vida adulta. Segundo pesquisa do Instituto Sangari, o estudo “Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil” mostra que entre 1998 e 2008 o homicídio foi a causa da morte de 39,7% dos jovens no Brasil. Na população adulta, 1,8% dos óbitos foi causado por homicídios. Segundo dados são do Mapa da Violência 2012, Crianças e Adolescentes do Brasil, publicado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e pelo Centro Brasileiro de Estudos da América Latina 2010, 8.686 crianças e adolescentes foram vítimas de homicídios no país, o que representa 11,5% do total de mortes de pessoas com idade até 19 anos. O índice de homicídios vem aumentando vertiginosamente nos últimos anos, alcançando o patamar de 13,8 homicídios para cada 100 mil jovens. Entre aqueles com 19 anos, a taxa aumenta para 60,3 a cada 100 mil. Os números colocam o Brasil no 4º lugar no ranking de países com mais assassinatos de jovens. Nós estamos perdendo nossos jovens para o crime organizado, para a má administração do dinheiro público, para uma sociedade desigual, uma policia despreparada e desvalorizada. Nosso grande patrimônio, nossos jovens, precisam ser vistos como cidadãos de direito, com oportunidades para desenvolver seu potencial, para que possam construir um pais mais justo.