terça-feira, 19 de março de 2013
Ética às Nossas Crianças
1.out.2010 | Atualizada em 19.out.2011 por Ceres Alves de Araújo Revista Veja São Paulo
Ética é uma matéria que faz parte do aprendizado de vida, no qual os pais devem ser os melhores professores. Então, como se ensina ética?
Ensina-se aquilo que se é. Ética se transmite. O que será apreendido e processado pelos filhos não é o que advém de um discurso verbal, de uma pregação ou de um sermão, mas sim o que eles captam no pensamento e na ação de seus pais. O cérebro é um leitor de mentes. As neurociências demonstram que o cérebro humano se desenvolve para captar e ser captado pelo cérebro do outro. É função inalienável dos pais transmitir condutas éticas a seus filhos, desde os primeiros tempos de vida.
Não se trata de ensinar o filho a ser “bonzinho”, pois ele corre o risco de ser bobo, mas sim de torná-lo um ser responsável por suas ações, desde os primeiros tempos de vida. Como pais, cumpre dar exemplo de autonomia e liberdade interna para fazer escolhas e assumir posições e se responsabilizar por elas. Uma pessoa só é ética quando se orienta por princípios e convicções.
As crianças precisam ser ensinadas à verdade. “Eu não quero que meu filho minta” — essa é a expressão do desejo de todos os pais. Mas não é fácil trabalhar essa questão com as crianças. Quantos pais saem de casa escondidos dos seus bebês para evitar berreiros? Quantas promessas são feitas às crianças sem que se tenha intenção ou possibilidade de cumpri-las? Quantas pessoas, quando toca o telefone, dizem para o filho: “Fala que eu não estou”? Quantas vezes as pessoas ensinam uma coisa e praticam outra? Quantas vezes se lida com a ética como se ela fosse algo maleável, adaptável a cada contexto?
Mentindo, os adultos ensinam seus filhos a mentir, pois eles perdem a referência do que é certo ou errado. Nada justifica uma mentira, não existem “mentirinhas”, mentiras “piedosas” nem mentiras “politicamente corretas” — todas fazem mal. É falsa a dicotomia entre mentira boa e mentira ruim. Ela por si só é ruim. E isso precisa ser transmitido às crianças. Falar a verdade implica ser honesto consigo mesmo e com os outros e assumir as consequências de seus atos. Essa é a base da ética. o que é certo e o que é errado, o que faz bem e o que faz mal.
Muitos pais, sem perceber, favorecem a possibilidade de o filho mentir. Sabem que a criança fez alguma coisa que não deveria ou deixou de fazer algo que deveria e a interpelam: “Você bateu no seu irmão?”; “Você quebrou tal objeto?”; “Você fez a lição?”... Por impulso, por medo das consequências ou por medo do castigo, a criança mente. Seria melhor não perguntar, mas afirmar: “Eu sei que você bateu no seu irmão”; “Eu sei que você quebrou tal objeto”; “Eu sei que você não fez a lição”; e tomar as providências cabíveis, evitando colocar a criança diante da possibilidade de mentir. Frases interrogativas, nesses casos, podem induzir à mentira. É melhor usar as afirmativas.
Outro ponto importante para ensinar ética às crianças é mostrar que diferente não é sinônimo de errado. Diferente é apenas diferente. Isso ajuda e muito a criança a perceber que ela pode ter amigos respeitando eticamente as diversidades de raça, crença, sexo, nacionalidade. Fica difícil para uma criança ter o aprendizado da ética quando os pais, em casa, zombam de uma pessoa por ser de raça ou nacionalidade diferente.
No esporte também se forma a ética da criança. Vencer é o objetivo. Para isso se faz a contenda. Mas jamais se deve admitir que os filhos ganhem mediante fraude. É frequente a criança com 6, 7 anos roubar no jogo. Ela quer ganhar, custe o que custar. Alguns adultos, ao jogar com as crianças, permitem o roubo e/ou deixam que elas ganhem, jogando mal de propósito. Isso não é válido e deseduca. Jogo é jogo. Deve ganhar o melhor ou quem teve mais sorte. Mesmo que seja dolorido, cumpre ao adulto mostrar que o jogo só tem graça quando jogado honestamente. Assim, quando a criança ganhar, ela saberá que, de fato, foi competente e comemorará uma vitória digna, uma vitória com ética.
Nossa época é pobre em ética. Modelos de corrupção, de indignidade, de desonestidade, de sonegação são numerosos em nossa sociedade. Nossas crianças ficam inexoravelmente submetidas a eles. Porém, a ética é própria do ser humano, que cria uma natureza moral sobre sua natureza instintiva. Princípios e valores sempre foram e continuarão a ser o que caracteriza a humanidade no homem e continuarão imprescindíveis para nos manter civilizados.
Ceres Alves de Araújo é psicóloga e professora da PUC-SP
sexta-feira, 15 de março de 2013
sugestões Sobre Como Falar de Sexualidade Com os Filhos
Luiz Fernando Paes
A partir dos três anos as criança começam a ter curiosidade sobre o corpo humano e a sexualidade.
Ninguém melhor do que os próprios pais para ajudar os pequeninos a descobrir como é importante para nossa vida conhecer nosso corpo e as novas sensações que aparecem a cada dia.
Desenvolver uma visão positiva sobre as sensações que o corpo contribuirá para que a criança tenha uma vida sexual saudável, e seja menos vulnerável ao abuso sexual.
Quando não temos as respostas para as dúvidas da criança, podemos pesquisar junto, ou pedir um tempo para que você se informe, mesmo para se sentir mais seguro.
Não minta para a criança, mais cedo ou mais tarde ela saberá a verdade e não perguntará mais a você.
Não finja ter esquecido da pergunta, ela buscará a resposta com outras pessoas.
Antes de responder as crianças pergunte,onde você ouviu, quem foi que falou sobre o assunto, o quê você sabe sobre isto?
Os pré adolescentes já tem um bom conhecimento sobre o corpo, use os nomes certos dos órgãos sexuais.
A partir dos 14 anos as questões relativas ao sexo e sexualidade devem ser tratadas da forma mais clara possível.
Evite passar opiniões pessoais, tabus e preconceitos.
Temas como homossexualidade e aborto costumam causar muita polêmica, pesquise junto com seu filho, mas estimule-o ater suas próprias opiniões e a respeitar as diferenças.
As crianças geralmente se satisfazem com respostas simples, não adianta "florear" demais.
Meninos e meninas precisam aprender a respeitar-se, a brincadeira contribui para que convivam com harmonia.
Abuso sexual de crianças deve ser prevenido. Lembre as crianças que ninguém pode mexer em seu corpo, que não deve aceitar doces nem presentes de estranhos ou acompanha-los.
Assuntos como menstruação e namoro deve estar em pauta, mesmo que a menina não tenha menstruado ou o menina e a menina estejam namorando.
O diálogo espontâneo ainda é o melhor recurso para o desenvolvimento de uma sexualidade saudável e feliz.
quarta-feira, 13 de março de 2013
A música pode colaborar com o aumento do vocabulário da criança, entre outros benefícios
De qualquer estilo, boa música ajuda a criança a se desenvolver
Comentários 5
Rita Trevisan
Do UOL, em São Paulo
13/03/20130
Thinkstock
A música pode colaborar com o aumento do vocabulário da criança, entre outros benefícios
Uma pesquisa do instituto Ipsos Marplan, que envolveu quase 3.000 crianças com idade entre dez e 12 anos e foi divulgada no primeiro semestre de 2012, mostrou que ouvir música é o principal passatempo desse público. E a boa notícia é que, muito além de entreter, o hábito ajuda no desenvolvimento infantil como um todo. "A música favorece a aquisição de vocabulário, dá noção de ritmo, trabalha a socialização e a afetividade. Quando associada a gestos e a coreografias ou à manipulação de instrumentos, há um grande ganho para a parte psicomotora também", afirma a psicopedagoga Teresa Helena Schoen, do Departamento de Pediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A capacidade de estimulação, a partir do contato com os sons, é imensa. "São muitos os elementos que constituem uma música e isso explica porque ela é tão rica. Estamos falando de melodia, harmonia, altura, duração, timbre e intensidade, entre outros", diz a doutora em ciências da saúde Cláudia Zanini, professora e coordenadora do mestrado em música da UFG (Universidade Federal de Goiás).
O ganho para a parte cognitiva também é grande. A música estimula o raciocínio lógico e o abstrato, a memória e pode acalmar e diminuir a ansiedade, desde que se escolha o som correto para a ocasião. "A música ajuda ainda na compreensão de regras sociais. Quando uma criança brinca de roda, por exemplo, ela tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica, situações de perda, de escolha, de decepção, de dúvida e de afirmação", afirma o mestre em performance musical Cássio Henrique Martins, coordenador do curso de música da UFPI (Universidade Federal do Piauí).
E para colher todos esses benefícios, quanto mais música a criança tiver em sua rotina, melhor. "A música pode servir, inclusive, como um elemento para ajudar a organizar o dia a dia dos menores. Muitas famílias usam canções para sinalizar o momento de acordar, de se alimentar, de dormir e de escovar os dentes. Assim, as crianças entram na brincadeira e os pais economizam nos sermões", fala Teresa.
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Com ajuda de ilustrações de bichos, livro ensina ioga para crianças11 fotos
Um macaco executa a posição Navasana, ou a do Barco, no livro "Aprendendo com os Bichos - Yoga para Crianças". Para fazê-la, a criança, deitada de barriga para cima com os braços estendidos ao longo do corpo, tem de elevar o tronco e as pernas. "A posição reforça a musculatura abdominal e recarrega o centro de energia do nosso corpo", afirma João Caré, autor da obra Joãocaré/WMF Martins Fontes
Repertório eclético
É claro que a qualidade da música oferecida à criança faz toda a diferença. Na maior parte do tempo, o ideal é que ela escute melodias especificamente desenvolvidas para a sua faixa etária. "A música infantil é geralmente pensada para promover a sociabilidade, a afetividade, a motricidade, a psicomotricidade, o lado lúdico e a fantasia das crianças", declara Martins.
Além disso, esse tipo de canção traz estruturas musicais mais simples, com melodias e harmonias que serão captadas com facilidade. "Quando se pensa em ritmos mais elaborados, por exemplo, a movimentação espacial e o nível de desenvolvimento da psicomotricidade da criança pode não estar à altura da dificuldade dos movimentos requeridos. Uma música com intervalos musicais mais amplos é muito mais difícil de cantar", afirma Claudia.
Isso não significa, no entanto, que os pais não devam apresentar ao filho outros estilos musicais. E, segundo os especialistas, todo o tipo de música faz bem e serve para estimular. "Os pais devem mostrar aquilo que eles gostam. O único cuidado é com as letras, que devem trabalhar conceitos que estão alinhados aos valores da família", diz Cláudia. Batidas muito pesadas ou som alto demais podem deixar os menores excessivamente excitados e irritadiços.
À parte o gosto pessoal, inserir música clássica e canções tradicionais no repertório infantil é sempre uma boa pedida. "A música clássica é muita rica em todos os elementos que a compõem, o que significa que ela oferece uma gama de estímulos muito grande. Já as músicas tradicionais têm a vantagem extra de ajudar a assimilar o repertório cultural do povo ao qual a criança pertence", diz Teresa.
Por fim, além de comprar CDs e DVDs para os filhos, os pais também podem estimulá-los a manipular instrumentos e fazer brincadeiras musicais com eles. As que envolvem movimentos, como "Ciranda Cirandinha", e a adição de novas palavras, a exemplo da "Canoa Virou", costumam manter as crianças e os adultos motivados por mais tempo. Assim, a diversão e o aprendizado estarão garantidos.
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terça-feira, 12 de março de 2013
Por que é tão difícil colocar limites no seu filho
12/03/2013 - folha de São Paulo
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
Os pequenos tiranos de hoje são resultado do encontro de duas gerações sem limites, diz Tania Zagury, mestre em educação e autora de "Limites Sem Trauma" (Record).
"Quem está criando filhos agora são os que já tiveram liberdade na infância e estão frente a uma situação que não vivenciaram: os filhos deles também querem fazer de tudo. A liberdade da criança acaba tirando a dos pais."
A família está sob o governo das crianças, afirma pesquisadora
Zagury fez um estudo com 160 famílias no início dos anos 1990, quando já identificava o surgimento da tirania infantil. "Os pais dos anos 1980 tinham sido criados de forma dominadora e queriam uma educação liberal."
Entre os anos 1970 e 1980 a criança se tornou ator da história, segundo Mary Del Priore, organizadora do livro "História das Crianças no Brasil" (Contexto).
A tendência começou depois da Segunda Guerra. Ao mesmo tempo, surgiram leis de proteção à infância, jovens ganharam visibilidade no cinema e na publicidade e as famílias diminuíram.
"A mulher [que trabalha fora e começa a tomar pílula] passa a querer ter menos filhos para criá-los bem. E a criança ganha lugar como consumidora. Há uma transformação no papel dos pais", afirma a historiadora.
CRISE DE AUTORIDADE
O problema é que a balança foi toda para o outro lado: da rigidez à frouxidão, analisa o psicanalista Renato Mezan, professor da PUC-SP. "Por um lado, é um avanço social, há mais diálogo na família e mais decisões consensuais. Mas, por outro, os pais têm medo de exercer a autoridade legítima. É uma crise de autoridade generalizada."
Há também uma inversão de papeis, segundo a pedagoga Adriana Friedmann, doutora em antropologia e coordenadora do Nepsid (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento).
"Há uma 'adultização' precoce e, ao mesmo tempo, um prolongamento da infância", diz. "Não dá para culpar só os pais. Todos são vítimas da tendência sociocultural. As crianças estão expostas a um grande número de estímulos e influências da mídia."
Para a psicanalista Marcia Neder, os pais se sentem obrigados a mimar os filhos e há muitas exigências em torno de um ideal da mãe perfeita. "Fica difícil dizer 'não' em uma sociedade que trata a criança como um deus."
A blogueira Loreta Berezutchi, 29, sente na pele as cobranças do que ela chama de "filhocentrismo". Loreta é mãe de Catarina, 3, e Pedro, 5. O menino não dá muito trabalho, mas Catarina...
"Ela está sempre batendo o pé. Empaca quando não quer sair de casa e quer escolher a roupa que vai usar. Às vezes, quer blusa de frio no calor e é difícil fazê-la mudar de ideia", conta.
Fabio Braga/Folhapress
A blogueira Loreta Berezutchi com a filha caçula, Catarina, 3, no playground do condomínio onde moram, em São Paulo
Além de comprar "as brigas que valem a pena" com a filha (como não deixá-la viver só de bolacha e iogurte), Loreta tenta não ser guiada pela concorrência que há entre mães blogueiras para ver quem é a "mais mãe", ou seja, a que mais paparica sua prole (ela escreve no www.bagagemdemae.com.br).
"Na hora de apontar o dedo, todo mundo aponta. 'Ah, meu filho só come comida saudável e o seu toma refrigerante'. Você se sente culpada por não ser o modelo de mãe que cozinha para o filho, dá água mineral etc.", diz.
Ela admite que sua vida hoje gira em torno dos rebentos e acha que faz parte do pacote. "Eu estava preparada para isso quando decidi ser mãe. Mas faz falta ter uma vida social que não os inclua."
Enquanto a criança ainda é um bebê, é normal que a vida da família seja pautada pelas necessidades dela, de acordo com Zagury. "Mas, a partir dos três, quatro anos não precisa ser assim. Os pais devem dar proteção aos filhos, não sua própria vida."
MAMÃE EU QUERO
Encontrar o equilíbrio pode ser complicado quando a criança tem entre dois ou três anos, aponta Friedmann. "Elas estão na fase de se descobrirem como pessoas com identidade única. Nesse período, há uma necessidade da afirmação do eu, por isso experimentam um jogo de força com os adultos."
É fundamental os pais terem clareza sobre quais regras vão impor aos filhos. Só assim conseguirão ser firmes.
"Os limites devem ser colocados na primeira infância, quando se constroem as bases da personalidade", acrescenta Friedmann.
A psicopedagoga Maria Irene Maluf, membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia, lembra que regras dão segurança. "A opinião da criança não deve ser ignorada, mas ela não sabe escolher o que é melhor para ela. Ninguém nasce autônomo."
No fundo, mesmo os mais rebeldes gostam de saber até onde podem ir, complementa a também psicopedagoga Betina Serson. Para quem tem um déspota mirim em casa, ela recomenda começar a disciplina estabelecendo uma rotina (veja mais orientações ao lado).
"A ideia de que colocar limites pode ser danoso à criança é 'idiota'", afirma Mezan. Segundo ele, a inexistência de regras gera ansiedade dos dois lados.
"Qualquer renúncia ao prazer imediato passa a ser vivida como uma frustração insuportável pela criança. Muitas vezes, porque seu desejo é logo satisfeito, ela acaba valorizando pouco o que tem", afirma.
A família está sob o governo das crianças
12/03/2013 - 05h00
A família está sob o governo das crianças, afirma pesquisadora
JULIANA VINES , Folha de São Paulo
DE SÃO PAULO
Theodoro tem dois anos e 11 meses e o apelido de "Theorremoto", ganho às custas de muita birra. "Não muito orgulhosa disso", a mãe, a estilista Marina Breithaupt, 32, diz que o menino manda nela, no pai e na irmã de 11 anos.
Por que é tão difícil colocar limites no seu filho
"Saímos quando ele quer, assistimos ao que ele gosta na TV. Ele quer tudo antes da irmã e decidiu que não dorme mais na cama dele, só na nossa", conta a mãe.
Adriano Vizoni/Folhapress
Theodoro,de dois anos e oito meses, no prédio onde mora, em Campinas
Se ouvir um não, o menino "faz escândalo, vira um inferno". A família deixou de ir a shopping porque Theo quer tudo que vê. E só vai a restaurante que tem parquinho: um dos pais brinca com ele enquanto o outro come.
A última do garoto é não querer ir à escola. "Já acorda dizendo que não vai. Num domingo, resolveu que queria ir", diz Marina. "Sou rígida, mas acabo cedendo para evitar problemas. Ele tem personalidade dominadora."
Ele e uma geração inteira de pequenos ditadores, na explicação de Marcia Neder, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e Educação da USP e autora do livro "Déspotas Mirins - O Poder nas Novas Famílias" (Zagodoni, 144 págs., R$ 34).
"Vivemos uma 'pedocracia'", diz, dando nome ao fenômeno das famílias sob o governo das crianças. "Há 50 anos, elas não tinham querer. Agora, mandam."
Segundo Neder, estamos no ápice da tirania infantil. "Muito se fala sobre declínio de poder paterno e ascensão do materno. Discordo. Quem ganhou poder nas últimas décadas foram os filhos", diz.
A falta de limites é sinal da derrota dos pais, na visão dela. "A criança foi a grande vitoriosa do século 20."
E não precisa ser mandão para manter o reinado. Mesmo sem espernear, os filhos têm as vontades atendidas e a rotina da casa organizada em função deles. "O adulto é um satélite em volta da criança", diz Neder, que considerada urgente um esforço pela retomada do poder adulto. "Vamos pagar o preço de ver esses tiranos crescidos."
Ser Próximo do Filho Adolescente é Diferente de Bancar o "Amigão"
Gabriela Horta
Do UOL, em São Paulo "12/03/2013
Forçar a mão para se enturmar com os amigos do filho pode fazer com que o jovem perca vivências importantes.
Participar da vida do filho é um comportamento positivo dos pais, mas é importante ter bom senso para não atrapalhar vivências que são necessárias ao desenvolvimento do adolescente. Convidar-se para programas com o jovem e sua turma constantemente, entre outras atitudes, pode pôr a autoridade do adulto em xeque.
"Alguns pais acham que se portando como amigo do filho e ficando sempre por perto vão impedi-lo de usar drogas e de fazer coisas erradas. Mas, quando interferem no convívio do jovem com a turma dele, acabam tirando-o de situações que deveriam estar vivenciando. Atrapalham o andamento natural das descobertas e das trocas", afirma Daniella Cury, psicóloga especialista em educação. "Busque o contato, mas não invada o espaço", fala a profissional. Mostrar-se aberto não é se comportar como um igual. O adulto deve estar sempre disposto a ouvir o filho caso ele necessite, mas não ficar insistindo o tempo todo para que ele compartilhe cada nova experimentação.
Walnei Arenque, psicóloga clínica, também levanta uma questão importante que influencia na tentativa dos pais de se comportarem como amigo do filho adolescente. "De uma forma geral, os adultos estão muito infantilizados. Há uma luta contra a velhice na sociedade. Todo mundo quer ser lindo, jovem, moderno."
Sinal vermelho
Ao buscar uma relação próxima com o jovem há limites a serem observados. "Os pais podem e devem participar (da vida do adolescente) para ocuparem o papel de cuidadores e não de mais um da turma, por mais que seja tentador voltar à adolescência", declara a psicóloga clínica Marisa de Abreu.
Segundo a especialista, pais que percebem que estão sendo vistos pelos amigos do filho como alguém muito diferente, "ganhando" em relação aos outros pais da turma, não podem deixar que essa "vitória" lhes suba a cabeça. "Não podem alimentar fantasias de que são muito melhores do que os outros pais. Devem deixar claro que uma postura mais despojada é apenas uma de muitas válidas e que cada filho deve tentar ao máximo entender seus pais e perceber que, mesmo cabeças menos modernas, podem ter ideias muito válidas e cheias de amor."
Nesse cenário, o filho desse pai super-legal pode sentir que está "perdendo" seus amigos. Todo adolescente precisa se perceber importante para seus pares, mas se o pai ou a mãe se mostra muito mais interessante, deixa de ser seu espelho para ser seu competidor. Nessa hora, passa de modelo que o filho gostaria de copiar a exemplo do que não fazer.
Erros comuns:
Os especialistas ouvidos nesta reportagem enumeram alguns erros comuns dos pais que querem ser "amigões" dos filhos, relatados pelos adolescentes nos consultórios.
- Tem uma relação mais íntima com o amigo do filho do que com o próprio filho;
- É o pai (ou mãe) super-legal na frente da turma e não mantém a mesma postura em casa;
- Usa a influência na turma para buscar informações referentes ao filho;
- Cumpre papel de "pai" (ou mãe) do amigo do filho;
- Usa o amigo do filho para passar recados ou orientações ao próprio filho;
- Constrange o filho na frente da turma contando histórias da infância do adolescente;
- Faz perfil em rede social, adiciona todos os amigos do filho e passa a interagir em todas as postagens, deixando conselhos para o filho e para a turma.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Como a Finlândia criou, com medidas simples e focadas no professor, o mais invejado sistema educacional
Por Thomaz Favaro, de Helsinque
Revista Veja – 20/02/2008
Quem entra numa escola na Finlândia se espanta com a simplicidade das instalações. Era de esperar que o sistema educacional considerado o melhor do mundo surpreendesse também pela exuberância do equipamento didático. Na verdade, na escola Meilahden Yläaste, em Helsinque, igual a centenas de outras do país, as salas de aula são convencionais, com quadro-negro e, às vezes, um par de computadores. Apesar do despojamento, as escolas finlandesas lideram o ranking do Pisa, a mais abrangente avaliação internacional de educação, feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O último teste, em 2006, foi aplicado em 400.000 alunos de 57 países. O Brasil disputa as últimas posições com países como Tunísia e Indonésia. O segredo da boa educação finlandesa realmente não está na parafernália tecnológica, mas numa aposta nas duas bases de qualquer sistema educacional.
A primeira é o currículo amplo, que inclui o ensino de música, arte e pelo menos duas línguas estrangeiras. A segunda é a formação de professores. O título de mestrado é exigido até para os educadores do ensino básico. Dar ênfase à qualidade dos professores foi um dos primeiros passos da reforma educacional que o país implementou a partir dos anos 70, e é nesse quesito que a Finlândia mais tem a ensinar ao Brasil. Quarenta anos atrás, metade da população finlandesa vivia na zona rural. A economia era dependente das flutuações do preço da madeira, já que 55% das exportações vinham da indústria florestal. Além dos bosques que cobrem 75% do território, o país só tinha a oferecer sua mão-de-obra barata. Os finlandeses emigravam em massa para vizinhos ricos, como a Suécia, em busca de melhores condições de vida. Preocupados com amá qualidade das escolas públicas, os pais estavam transferindo os filhos para instituições privadas de ensino. Em alguns desses aspectos, a Finlândia se parecia com o Brasil. A reforma educacional colocou a qualificação dos professores a cargo das universidades, com duração de cinco anos. Hoje, a profissão é disputadíssima (só 10% dos candidatos são aprovados) e usufrui grande prestígio social (é a carreira mais desejada pelos estudantes do ensino médio).
O segundo passo da reforma, em 1985, foi descentralizar o sistema de ensino. Por esse conceito, o professor é o principal responsável pelo desempenho de seus alunos: é ele quema valia os estudantes, identifica os problemas, busca soluções e analisa os resultados. O Ministério da Educação dá apenas as linhas gerais do conteúdo a ser lecionado. “Isso só é possívelporque os professores recebem um treinamento prático específico para saber lidar com tanta independência”, disse a VEJA Hannele Niemi, vice-reitora da Universidade de Helsinque, que trabalha com a formação de professores há três décadas. O currículo escolar também é flexível, decidido em conjunto entre professores, administradores, pais e representantes dos alunos. A cada três anos, as metas da escola são negociadas com o Conselho Nacional de Educação, órgão responsável por aplicar as políticas do ministério. “Queremos que os professores e os diretores, que conhecem o dia-a-dia da escola, sejam responsáveis pela educação”, diz Reijo Laukkanen, um dos membros mais antigos do Conselho Nacional de Educação.
O governo finlandês faz anualmente um teste com todas as escolas do país e o resultado é entregue ao diretor da instituição, comparando o desempenho de seus alunos com a média nacional. Cabe aos diretores e aos professores decidir como resolver seus fracassos. Esse sistema tem o mérito de fazer com que os professores se sintam motivados para trabalhar. A reforma educacional finlandesa levou três décadas para se consolidar. Pouco a pouco, as crianças voltaram a ser matriculadas nas escolas públicas e as instituições privadas foram incorporadas ao sistema do estado. Hoje, 99% das escolas são públicas e o aluno conta com material escolar, refeições e transporte gratuitos. Cerca de 20% dos estudantes recebem algum tipo de reforço escolar, índice acima da média internacional, de 6%. “Quando um aluno repete, perde toda sua motivação, torna-se amargo e pode até apresentar resultados piores que na primeira tentativa”, diz Eeva Penttilä, do departamento de educação da cidade de Helsinque.
O sucesso da educação finlandesa é, em parte, fruto das características únicas do país. A população, de 5,2 milhões de habitantes, é relativamente pequena e homogênea. “Com uma população 35 vezes maior e disparidades regionais e sociais mais acentuadas, o Brasil não conseguiria ter o mesmo padrão de igualdade entre as escolas, como existe na Finlândia”, diz João Batista de Oliveira, ex-secretário executivo do Ministério da Educação. O preço do sistema de bem-estar social que assiste o cidadão do berço ao túmulo é uma carga tributária de 43% do PIB, uma das maiores do mundo, mas apenas seis pontos acima da brasileira. Ou seja, trata-se de um estado paquidérmico, mas eficiente. A Finlândia é o país menos corrupto, segundo a Transparência Internacional. Há quase treze anos na Finlândia, a brasileira Andrea Brandão conhece bem as diferenças entre as duas sociedades. “No Brasil, muita gente acha que algumas profissões, como porteiro, não necessitam de um ensino básico de qualidade”, diz. “Na Finlândia, existe um consenso de que todo mundo precisa ter uma educação mínima para ser um cidadão.”
Andrea é professora de inglês em uma das poucas escolas particulares do país, voltada para a população de fala sueca, que é minoria na Finlândia. Particular, nos “moldes finlandeses”, significa que os alunos pagam uma anuidade opcional de 100 euros, pouco mais de 250 reais. A estudante Eeva-Maria Puska, de 16 anos, passa seis horas e meia por dia na escola Meilahden Yläaste, em Helsinque. Além das disciplinas obrigatórias, ela freqüenta aulas de música, artes e francês, opcionais para os alunos da 9ª série. Mesmo com tantas matérias, Eeva não reclama da carga horária nem, menos ainda, do ambiente: “Gosto dos meus professores, tanto como profissionais quanto como pessoas”, afirma. Na sua escola, professores e alunos conversam amigavelmente nos corredores espaçosos e bem iluminados. A educação de qualidade foi essencial para uma virada na economia finlandesa. A mão-de-obra qualificada permitiu que a eletrônica substituísse a madeira e o papel como principais produtos de exportação.
A Finlândia tem hoje o terceiro maior investimento em pesquisa e desenvolvimento do planeta, grande parte feita por empresas privadas. Uma antiga fábrica de papéis e de botas de borracha do interior do país foi o símbolo dessa transformação. A empresa, Nokia, hoje é a maior fabricante mundial de celulares, com 40% do mercado internacional. Juntos, ela e o sistema educacional são os dois maiores orgulhos dos finlandeses.
OS CINCO SEGREDOS DA EDUCAÇÃO FINLANDESA
A Finlândia consegue ter os alunos mais bem preparados do mundo com medidas simples e ênfase na formação dos professores
1 A exigência com os professores é alta e a carreira, concorrida. O vestibular para ser professor é um dos mais disputados do país. Apenas 10% dos candidatos são aprovados. Exceto na pré-escola, o mestrado é pré-requisito para lecionar
2 A mesma qualidade para todos. A discrepância no desempenho entre as escolas do país é a menor do mundo. O governo mantém um sistema sigiloso de avaliação das escolas (99% são públicas) e os diretores são informados sobre o desempenho delas
3 Os piores alunos não são deixados para trás Dois em cada dez estudantes recebem aulas de reforço. Por causa disso, os índices de repetência são baixíssimos
4 Currículo variado. Além das matérias básicas, há aulas de ecologia, ética, música, artes e economia doméstica. O ensino de duas línguas estrangeiras é obrigatório, mas, se o aluno quiser, pode aprender outras duas
5 Os alunos devem ter prazer em ficar na escola. Os diretores e professores são responsáveis por criar um ambiente agradável para os estudantes. A carga horária não é excessiva e, a partir da 7ª série, os alunos são livres para escolher algumas disciplinas com as quais têm mais afinidade
Finlândia x Brasil
Ênfase nos professores
Em comparação com o Brasil, a Finlândia mantém os alunos por mais tempo na escola e investe mais na formação dos professores. O fato de ganharem menos que os brasileiros em proporção à renda per capita nacional demonstra que salário não é a única maneira de estimular os professores
http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/noticia/educacao/conteudo_270947.shtml
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